Todos podem ser amigos de Deus
Juliana Ravelli
Do Diário do Grande ABC
A gente também pode falar em qualquer idioma, já que Ele entende todos. Por ser muçulmana, Leila Ahmad Jarouche, 7, de São Bernardo, aprende as rezas do Alcorão em árabe. Nathan Reis Soares, 10, de São Caetano, decora os mantras do budismo em tibetano. E Felipe Krakauer, 11, de Santo André, fez aulas de hebraico para entender o Torá (livro sagrado dos judeus).
Ora, e como ficam os politeístas, os animistas, os deístas, os pagãos? A matéria exala desconhecimento por entender que nada existe no mundo da religião além do monoteísmo ocidental - incluído o erro grosseiro de que o budismo é teísta e que os mantras têm algo a ver com divindades. É particularmente insultuoso para com os ateus, pois diz que não temos coragem de enfrentar divindades e lutar por um mundo melhor.
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Mandarei um email esclarecedor para esses cidadãos. Pelo visto eles não entendem o conceito de fé. Que mania de achar que ter fé é bom.
ResponderExcluirO email que enviei:
ResponderExcluirCaros Editores/componentes da equipe do Diarinho (componente infantil do jornal Diário do Grande ABC)
Venho por meio deste e-mail, e da forma mais humilde que me é possível, fazer-lhes uma correção acerca do que foi publicado. Tendo acesso à leitura do artigo, em que é demonstrado um apreço pela dedicação religiosa infantil, percebi erros que não pude deixar de mencionar aqui - para que publicações futuras sejam mais abrangentes, mais sinceras e menos errôneas.
Primeiramente, há o erro cometido quanto ao budismo, categorizado dentre outras como uma religião teísta (que crê numa divindade) quando, em verdade, o budismo segue uma linha puramente ideológica, em que não há veiculação de pedidos ou servidão à imagem divina, como as outras que foram citadas no tal artigo.
Segundo, eu lhes questiono: somente a criança que crê no Deus monoteísta ocidental é que terá "coragem de enfrentar as dificuldades e lutar por um mundo melhor."?. Onde ficam as religiões politeístas que, embora em minoria em nosso país, ainda EXISTEM? E as crianças que são criadas numa perspectiva atéia? Elas realmente devem ser encorajadas a acreditar que não poderão mover-se em um mundo que não poderá mudar (por não ter fé)?
Creio que esqueceram o conceito de fé, meus caros. Para isso, uma definição do Dicionário Michaelis aborda o essencial do significado de tal παλαυρα: "crença inabalável, que não tende a razões ou argumentos.".
As suas crianças, seus leitores, devem ser estimuladas a acreditarem QUE PODEM MUDAR O MUNDO, QUE PODEM SER PEÇAS IMPORTANTES NA FORMAÇÃO DE UMA SOCIEDADE PLENA, INDEPENDENTE DA FÉ OU DA FALTA DELA.
Contando com uma retratação ou uma não repetição da visão limitada em suas publicações,
Grato,
Recebi uma resposta da Juliana Ravelli, segue:
ResponderExcluirOlá, Fernando,
Sou Juliana, repórter do Diarinho.
Desculpe a demora em responder, mas estive fora da redação no Natal.
Tenho respostas para seus questionamentos e espero que as compreenda.
Essa matéria foi extremamente difícil de ser feita. Primeiramente, tive o dilema de 'selecionar' (embora essa não seja a palavra ideal) sete religiões. Sabemos sobre a diversidade religiosa em nosso País e no mundo. No entanto, temos de lidar com a limitação de espaço do jornal impresso.
Antes de qualquer coisa, quero deixar claro que tenho grandes amigos e familiares muito próximos ateus. Pensei muito sobre incluir ou não o ateísmo na reportagem. Discuti isso com várias pessoas. Minha conclusão foi de que para ser coerente, teria de encontrar uma criança ateísta (que tenha entre 7 e 10 anos e que viva no Grande ABC; exigências do caderno). Além da dificuldade em achar o personagem, pensei em outro detalhe: como expor uma única criança ateísta em meio a outras que têm uma crença? Como ela seria tratada pelos colegas da escola? Sofreria algum preconceito? Por isso, decidi não incluir o ateísmo. Foi a melhor decisão? Honestamente, agora não sei. Mas como profissional fiz uma escolha.
Em muitas matérias - sem escrever nada sobre religião - me esforço para estimular meus leitores a acreditarem que são capazes de superar dificuldades e de mudar o mundo. Pois eu acredito no que Mikhail Gorbachev disse: "São os idealistas que movem o mundo". No entanto, essa matéria, especificamente, tem a religião como tema central. Em momento nenhum coloco que apenas quem acredita em Deus é bom e faz o bem.
Acredito que temos uma discordância quanto ao amplo significado de fé; um deles é "crença inabalável, que não tende a razões ou argumentos", porém não o único. Assim como um dos especialistas que consultei disse, fé independe de religião. Muito se discute sobre o assunto, que por sinal é extremamente complexo.
Quanto ao budismo, tive longa conversa com a monja Ani Sherab. Não coloquei na matéria que o budismo crê numa divindade. Mas a própria monja disse que Deus é um só; não é barbudo como na mística cristã. Deus é criatura, criador e espaço; uma grande inteligência operando em tudo.
Não tenho nenhum problema com críticas. Pelo contrário; escutá-las é um exercício de humildade. Certamente, aprenderei com elas.
Por favor, não pense que sou uma profissional com visão limitada. Apesar de difícil e de nem sempre conseguir, esforço-me muito para 'enxergar' o mundo de diferentes formas.
Novamente, espero ter compreendido minhas escolhas e o quão difícil é escrever para o Diarinho.
Abraço,
Juliana Ravelli
Deus é um problema
ResponderExcluir- É um problema para os crentes que, ressentidos da fé, tentam exaustivamente provar, a sí mesmos, sua existência através do convencimento alheio... as pessoas do ¨mundo¨.
- É um problema para os religiosos que, convencidos da fé, buscam incessantemente a vida eterna através da obediência irrestrita e sofrida às regras de comportamento moral reveladas no livro santo.
- É um problema para os céticos que, duvidosos da fé, vivem no contínuo dilema da contradição infinita ao acreditarem na veracidade das suas próprias argumentações.
- É um problema para os ateus que, destituidos da fé, caminham oscilantes na linha fronteiriça entre o subjetivismo exacerbado e o objetivismo desmedido.
- É um problema para os metafísicos que, acomodados na fé, procuram, incansavelmente, a essência do mundo na compreensão de seres infalíveis.
- É um problema para os dogmáticos que, respaldados na fé, radicalizam o indubitável, causador de uma existência obscurecida pela nulidade das ações humanas.
- É um problema para os cientistas e lógicos que, indiferentes da fé, se agarram compulsivamente ao racionalismo formal, gerando o desencantamento do desprover intuitivo e mágico.
- É um problema para mim que, inspirado na fé, tendo Deus como mote, resolvi escrever sobre um tema infindável e polêmico que pertuba meu sono.
Marco Antônio Abreu Florentino
OBS 1: Texto escrito em Agôsto de 2007.
OBS: Ao me referir a Deus como um problema, o faço do ponto de vista da linguagem e suas interpretações (hermenêutica). Quanto ao seu significado essencial,para mim, principalmente após minha experiência clinica com a morte em Agôsto de 2012, continua mais firme do que nunca... ¨É a energia maior da natureza, imanente em tudo e em todos.¨